4. Tratamento:
Os tratamentos disponíveis são medicamentosos e não medicamentosos, conforme descritos a seguir. A opção entre um e outro, ou então uma combinação de ambos, é feita em conjunto (psiquiatra e paciente).
4.1. Medicamentoso:
O tratamento medicamentoso é uma opção, porém, em alguns casos, somente o uso de técnicas psicoterápicas serão suficientes.
O tratamento medicamentoso é feito com antidepressivos (ADs). Outros medicamentos podem ser usados para sintomas específicos. Por exemplo, para insônia, dores musculares e sonolência diurna.
Para conhecer os ADs disponíveis no mercado, com seus mecanismos de ação e modo de uso, clique aqui.
4.2. Não medicamentoso:
Existe uma ampla gama de estudos demonstrando que o tratamento de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e Transtorno de Acumulação (TA) devam ser sempre acompanhados de técnicas psicoterápicas. Importante ressaltar que nem sempre será necessário um curso de psicoterapia intensiva, do tipo com frequência semanal. Entretanto, durante as consultas com o psiquiatra, algumas técnicas psicoterápicas devem ser usadas.
No item 4.2.c, descrevo as técnicas básicas utilizadas. Além destas, algumas outras são trabalhadas, de acordo com o(s) seus(s) diagnóstico(s).
4.2.a) Motivos:
E por que isso é importante? Pelos seguintes motivos:
. Remissão mais rápida dos sintomas.
. Melhora mais substancial e mais rápida da qualidade de vida e bem-estar.
. Propicia o uso de menores doses de medicamentos.
. Auxilia na resolução de insônia, ansiedade e dores musculares.
. Aumenta a possibilidade de períodos mais curtos de uso de medicamentos.
. Aumenta a probabilidade de, depois de um curso de tratamento medicamentoso, não necessitar mais medicamentos.
4.2.b) As técnicas psicoterápicas têm por objetivo:
. Identificar e implementar estratégias para resolução de sintomas.
. Identificar e implementar estratégias para resolução de fatores estressores que possam estar causando ou agravando sintomas.
. Identificar e implementar estratégias para modificação de formas distorcidas de interpretar a realidade (para saber mais, clique aqui).
. Identificar e implementar estratégias para modificação de padrões cognitivos prejudiciais (para ler mais, clique aqui).
. Desenvolver e implementar estratégias de enfrentamento, especialmente no caso de conflitos.
. Implementar técnicas para a melhora da qualidade de vida e bem-estar, em especial, praticar exercícios físicos, ter regularidade no sono, alimentar-se de forma saudável e usar técnicas de relaxamento.
. Fortalecer a rede de suporte social.
. Fortalecer a autoestima.
. Desenvolver autonomia para lidar com fatores estressores.
4.2.c) Quais técnicas são as mais recomendadas:
. No início, sempre utilizamos a Psicoeducação. Trata-se de uma abordagem psicoterapêutica em que o princípio é aprender e refletir sobre como o transtorno psíquico se manifesta, identificar sintomas e fatores precipitantes. Além disso, avaliar questões sobre o tratamento medicamentoso, quando for o caso, considerando tópicos como o que esperar do(s) medicamento(s) usado(s), efeitos colaterais possíveis, tempo de tratamento, etc.
. Conforme o seguimento vai sendo feito, são trabalhados elementos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). A TCC parte do princípio de que pensamentos distorcidos levam a uma interpretação enviesada da realidade, causando sintomas (ou grande parte deles). Assim, quando temos pensamentos disfuncionais (distorcidos), o resultado serão emoções e comportamentos também disfuncionais, o que, em última análise, são os sintomas. Nestes casos, deixamos de considerar outras evidências contrárias ao pensamento disfuncional. Como exemplo, permanecer em dúvida se está contaminado por uma doença grave pelo fato de passar por alguém usando máscara. A TCC também trabalha com o reforço de comportamentos saudáveis e promoção do bem-estar e qualidade de vida.
. Por fim, são trabalhadas técnicas da Terapia do Esquema. Esquemas são estruturas cognitivas que contêm as crenças mais profundas sobre nós mesmos, os outros e o mundo. Quando induzem a avaliações incorretas e enviesadas da realidade, provocando emoções, reações corporais e comportamentos negativos, são chamados de disfuncionais. Os pensamentos disfuncionais derivam de crenças centrais disfuncionais. Por exemplo, uma pessoa que acredita ser incompetente e nunca ser boa o suficiente produzirá pensamentos disfuncionais compatíveis com isso. Quando receber uma crítica, poderá dramatizar em demasiado a situação e entender isso como uma comprovação de que realmente não é capaz. Ao contrário, alguém que acredite nas suas capacidades, poderá interpretar a crítica como algo comum, simplesmente uma sinalização de que algo pode ser feito de forma diferente.
5. Comorbidades:
A ocorrência de algum outro transtorno psíquico concomitantemente (comorbidade) com TOC e TA é comum. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que transtornos psíquicos ocorrendo isoladamente fossem a regra. Chegava-se a incentivar o diagnóstico único. Mais recentemente, tem-se demonstrado através de estudos epidemiológicos que comorbidade é muito comum em psiquiatria. Esta informação é crucial para se estabelecer o tratamento de cada paciente por três motivos:
. O não tratamento de um transtorno pode acarretar a não melhora do(s) outro(s): por exemplo, não tratar Transtorno Bipolar pode prejudicar o tratamento de TOC.
. O tratamento de um transtorno pode piorar o(s) outro(s): por exemplo, o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na presença de TA pode piorar os sintomas do segundo.
. O tratamento de um transtorno pode causar a melhora de transtorno(s) comórbido(s), que era(m) considerados uma hipótese. Nestes casos, na verdade, os sintomas necessários para preencher os critérios diagnósticos do(s) transtorno(s) comórbido(s) eram consequência do primeiro e, devido a esta possibilidade, tem que ser considerado apenas como uma hipótese diagnóstica inicialmente: por exemplo, o tratamento de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) pode melhorar sintomas inicialmente entendidos como sendo de TOC.
Por este motivo, quando há mais de um transtorno, pode haver a necessidade de se implementar tratamentos em etapas, seguindo protocolos estabelecidos. Por exemplo, no caso de Transtorno Bipolar (TB) e TOC, inicia-se o tratamento para TB e depois para TOC.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves
Médico Psiquiatra em Florianópolis, Mestre, PhD
CRM/SC 20397–RQE/SC 11560