Os esquemas disfuncionais nascem das primeiras relações afetivas da vida de um indivíduo, sejam os pais ou outros cuidadores, e depois são aplicados à maior parte das situações futuras. Formam-se precocemente na infância como uma forma primitiva de compreender a realidade quando as necessidades básicas de criança, que são segurança, autonomia, competência, senso de identidade, liberdade de expressão, espontaneidade, lazer, limites coerentes e autocontrole, não são atendidas.
Determinados comportamentos dos pais ou cuidadores propiciam o surgimento de esquemas específicos. Por exemplo, um indivíduo cujos pais abusavam física e psicologicamente, ou seja, não proporcionaram senso de segurança e liberdade de expressão, pode desenvolver esquema de desconfiança/abuso. Suas primeiras relações com figuras importantes na vida “ensinaram” que as pessoas e o mundo não são confiáveis e que sempre estará sujeito a ser manipulado e machucado pelos outros.
E por que os esquemas se mantêm após a infância, quando não é mais necessário que as necessidades de criança sejam atendidas? Porque se tornaram “verdades” para o indivíduo e lhe dão a base para o entendimento da realidade.
Com o passar dos anos, os esquemas vão sendo alimentados e mantidos através da valorização de ocorrências que os comprovem e da desconsideração das que os refutem. Chamamos a isso de profecia autoconfirmatória: o indivíduo comprova suas crenças por meio da seleção de informações da realidade, ou seja, ele próprio “força” uma confirmação sobre o que pensa sobre si mesmo, os outros e o mundo.
Por exemplo, alguém com esquema de fracasso recorda basicamente os momentos da vida em que foi mal sucedido, deixando de considerar aqueles em que foi vitorioso, o que perpetua seu esquema disfuncional. Até mesmo quando enxerga uma vitória, acredita que esta ocorreu apenas por sorte ou ajuda de outras pessoas. Quanto mais os esquemas disfuncionais forem considerados verdadeiros, mais difícil é modificá-los.
Após formados, os esquemas servem para entender a realidade e tomar decisões. Um mesmo estímulo pode ser interpretado de inúmeras formas e gerar atitudes diferentes, de acordo com os esquemas de cada pessoa. Por exemplo, para alguém com esquema de subjugação, quando lhe é solicitado algo, o pedido será atendido imediatamente e sem contestações. Isto porque este indivíduo tem a crença de que deve se submeter às necessidades alheias, mesmo que em detrimento das próprias, por temer rejeição ou retaliação.
Ao contrário, alguém com esquema de arrogo/grandiosidade dificilmente atenderá às solicitações dos outros, pois este indivíduo tem a crença de que somente as suas necessidades é que importam, desconsiderando as alheias. Isto significa dizer que cada indivíduo vai rastrear, compreender e avaliar as informações provenientes do meio interno ou externo de forma a se enquadrarem aos seus esquemas, o que serve de base para a ação.
As pessoas lidam de formas diferentes com seus esquemas, ou seja, têm diferentes estilos de enfrentamento. A seguir os três mais comuns:
. Resignação: o indivíduo aceita o esquema como verdadeiro, pensando, agindo e sentindo de acordo com ele. Quando adulto revive as relações íntimas disfuncionais da infância, atraindo-se por pessoas que comprovem o seu esquema. Por exemplo, no caso de privação emocional, tende a se relacionar com parceiros frios, distantes e sem empatia. Isto porque, ao se resignar ao esquema, acredita que não existam pessoas que lhe proporcionarão cuidado, afeto, atenção e amor;
. Evitação: é uma forma de tentar organizar a vida de forma a evitar que o esquema seja ativado. Os pensamentos, imagens e pensamentos relacionados ao esquema são bloqueados, pois o indivíduo não quer enfrentá-lo. Pode isolar-se socialmente, beber em excesso, usar drogas, ter comportamento sexual promíscuo, tornar-se viciado em trabalho, etc. Por exemplo, no caso de abandono/instabilidade, evita relacionamentos pois crê que fatalmente será abandonado;
. Hipercompensação: ocorre quando o indivíduo adota comportamentos opostos àqueles que são próprios do seu esquema. Por exemplo, no caso de defectividade/vergonha, pode tornar-se narcisista, sentir-se especial e superior aos outros, como se fosse merecedor de atenção especial e privilégios. Na superfície é autoconfiante e bem resolvido, podendo inclusive ser muito admirado, mas no íntimo sofre pela pressão de ativação do esquema.
Clique Aqui para ver a apresentação dos principais tipos de esquemas disfuncionais.
Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves – Psiquiatra em Florianópolis e Caxias do Sul
Entre em contato clicando aqui