2. Como é feito o diagnóstico?
Os dois manuais diagnósticos mais utilizados na prática psiquiátrica são:
. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5-TR: Texto Revisado (a sigla DSM-5-TR deriva do título original em inglês: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition, Text Revision (DSM-5-TR)).
. Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde 11a Revisão – CID 11 (título original em inglês: International Classification of Diseases and Related Health Problems 11th Revision – ICD 11).
A CID 11 é utilizada no Brasil oficialmente para codificação dos transtornos psíquicos. Entretanto, na prática, utilizamos o DSM-5-TR como guia diagnóstico, visto que a apresentação dos transtornos é mais completa e objetiva. Assim, os critérios diagnósticos utilizados aqui são aqueles apresentados pelo DSM-5-TR. Isto não cria discrepâncias, uma vez que os tipos de transtornos psiquiátricos e os grupos a que pertencem seguem as mesmas regras nos dois manuais.
O diagnóstico de TDPM é feito quando alguns critérios básicos, apresentados abaixo, são atendidos.
2.1 Critérios diagnósticos:
A. Na maioria dos ciclos menstruais, pelo menos cinco sintomas devem estar presentes na semana final antes do início da menstruação, começar ou ausentes na semana pós-menstrual. Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve estar presente:
1. Labilidade afetiva acentuada (p. ex., mudanças de humor; sentir-se repentinamente triste ou chorosa ou sensibilidade aumentada à rejeição).
2. Irritabilidade ou raiva acentuadas ou aumento nos conflitos interpessoais.
3. Humor deprimido acentuado, sentimentos de desesperança ou pensamentos autodepreciativos.
4. Ansiedade acentuada, tensão e/ou sentimentos de estar nervosa ou no limite.
B. Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve adicionalmente estar presente para atingir um total de cinco sintomas quando combinados com os sintomas do Critério B.
1. Interesse diminuído pelas atividades habituais (p. ex., trabalho, escola, amigos, passatempos).
2. Sentimento subjetivo de dificuldade em se concentrar.
3. Letargia, fadiga fácil ou falta de energia acentuada.
4. Alteração acentuada do apetite; comer em demasia; ou avidez por alimentos específicos.
5. Hipersonia ou insônia.
6. Sentir-se sobrecarregada ou fora de controle.
7. Sintomas físicos como sensibilidade ou inchaço das mamas, dor articular ou muscular, sensação de “inchaço” ou ganho de peso.
Nota: Os sintomas nos Critérios A-C devem ser satisfeitos para a maioria dos ciclos menstruais que ocorreram no ano precedente.
D. Os sintomas estão associados a sofrimento clinicamente significativo ou a interferência no trabalho, na escola, em atividades sociais habituais ou relações com outras pessoas (p. ex., esquiva de atividades sociais; diminuição da produtividade e eficiência no trabalho, na escola ou em casa).
E. A perturbação não é meramente uma exacerbação dos sintomas de outro transtorno, como transtorno depressivo maior, transtorno de pânico, transtorno depressivo persistente ou um transtorno da personalidade (embora possa ser concomitante a qualquer um desses transtornos).
F. O Critério A deve ser confirmado por avaliações prospectivas diárias durante pelo menos dois ciclos sintomáticos. (Nota: O diagnóstico pode ser feito provisoriamente antes dessa confirmação.)
G. Os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo).
3. Tratamento:
3.1. Medicamentosos:
a) Antidepressivos: a classe de antidepressivos mais indicada é a dos Inibidores da Recaptação de Serotonina (IRSS) e dos Inibidores da Recaptação de Noradrenalina e Dopamina (IRND). Para saber mais sobre antidepressivos, clique aqui.
b) Anticoncepcionais orais: geralmente usados de forma continuada para interromper a menstruação.
c) Vitamina B6
d) Analgésicos e anti-inflamatórios: úteis nos sintomas físicos, como dor.
3.2. Não medicamentosos:
O tratamento de TDPM deve ser sempre acompanhado de técnicas psicoterápicas. Importante ressaltar que nem sempre será necessário um curso de psicoterapia intensiva, do tipo com frequência semanal. Entretanto, durante as consultas com o psiquiatra, algumas técnicas psicoterápicas devem ser usadas.
No item 4.2.c, descrevo as técnicas básicas utilizadas. Além destas, algumas outras são trabalhadas, de acordo com o(s) seus(s) diagnóstico(s).
4.2.a) Motivos:
E por que isso é importante? Pelos seguintes motivos:
. Remissão mais rápida dos sintomas.
. Melhora mais substancial e mais rápida da qualidade de vida e bem-estar.
. Propicia o uso de menores doses de medicamentos.
. Auxilia na resolução de insônia, ansiedade e dores musculares.
. Aumenta a possibilidade de períodos mais curtos de uso de medicamentos.
. Aumenta a probabilidade de, depois de um curso de tratamento medicamentoso, não necessitar mais de medicamentos.
4.2.b) As técnicas psicoterápicas têm por objetivo:
. Identificar e implementar estratégias para resolução de sintomas.
. Identificar e implementar estratégias para resolução de fatores estressores que possam estar causando ou agravando sintomas.
. Identificar e implementar estratégias para modificação de formas distorcidas de interpretar a realidade (para saber mais, clique aqui).
. Identificar e implementar estratégias para modificação de padrões cognitivos prejudiciais (para ler mais, clique aqui).
. Desenvolver e implementar estratégias de enfrentamento, especialmente no caso de conflitos.
. Implementar técnicas para a melhora da qualidade de vida e bem-estar, em especial, praticar exercícios físicos, ter regularidade no sono, alimentar-se de forma saudável e usar técnicas de relaxamento.
. Fortalecer a rede de suporte social.
. Fortalecer a autoestima.
. Desenvolver autonomia para lidar com fatores estressores.
4.2.c) Quais técnicas são as mais recomendadas:
. No início, sempre utilizamos a Psicoeducação. Trata-se de uma abordagem psicoterapêutica em que o princípio é aprender e refletir sobre como o transtorno psíquico se manifesta, identificar sintomas e fatores precipitantes. Além disso, avaliar questões sobre o tratamento medicamentoso, quando for o caso, considerando tópicos como o que esperar do(s) medicamento(s) usado(s), efeitos colaterais possíveis, tempo de tratamento, etc.
. Conforme o seguimento vai sendo feito, são trabalhados elementos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). A TCC parte do princípio de que pensamentos distorcidos levam a uma interpretação enviesada da realidade, causando sintomas (ou grande parte deles). Assim, quando temos pensamentos disfuncionais (distorcidos), o resultado serão emoções e comportamentos também disfuncionais, o que, em última análise, são os sintomas. Nestes casos, deixamos de considerar outras evidências contrárias ao pensamento disfuncional. Como exemplo, passar por um colega de trabalho que lhe cumprimenta de forma um tanto rude. O portador de TAS pode interpretar a atitude do colega como uma confirmação de que não é apreciado por ele, ou até mesmo é rejeitado – aqui ocorreram as distorções cognitivas visão em túnel e personalização. Deixa de considerar, por exemplo, que o colega está num mau dia e de mau-humor. A TCC também trabalha com o reforço de comportamentos saudáveis e promoção do bem-estar e qualidade de vida.
. Por fim, são trabalhadas técnicas da Terapia do Esquema. Esquemas são estruturas cognitivas que contêm as crenças mais profundas sobre nós mesmos, os outros e o mundo. Quando induzem a avaliações incorretas e enviesadas da realidade, provocando emoções, reações corporais e comportamentos negativos, são chamados de disfuncionais. Os pensamentos disfuncionais derivam de crenças centrais disfuncionais. Por exemplo, uma pessoa que acredita ser incompetente e nunca ser boa o suficiente produzirá pensamentos disfuncionais compatíveis com isso. Quando receber uma crítica, poderá dramatizar em demasiado a situação e entender isso como uma comprovação de que realmente não é capaz. Ao contrário, alguém que acredite nas suas capacidades, poderá interpretar a crítica como algo comum, simplesmente uma sinalização de que algo pode ser feito de forma diferente.
4. Comorbidades:
A ocorrência de algum outro transtorno psíquico concomitantemente (comorbidade) com TDPM é muito comum. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que transtornos psíquicos ocorrendo isoladamente fossem a regra. Chegava-se a incentivar o diagnóstico único. Mais recentemente, tem-se demonstrado através de estudos epidemiológicos que comorbidade é muito comum em psiquiatria. Esta informação é crucial para se estabelecer o tratamento de cada paciente por três motivos:
. O não tratamento de um transtorno pode acarretar a não melhora do(s) outro(s): por exemplo, não tratar Insônia pode prejudicar o tratamento de um Transtorno Depressivo.
. O tratamento de um transtorno pode piorar o(s) outro(s): por exemplo, o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na presença de TDPM pode piorar os sintomas do segundo.
. O tratamento de um transtorno pode causar a melhora de transtorno(s) comórbido(s), que era(m) considerados uma hipótese. Nestes casos, na verdade, os sintomas necessários para preencher os critérios diagnósticos do(s) transtorno(s) comórbido(s) eram consequência do primeiro e, devido a esta possibilidade, tem que ser considerado apenas como uma hipótese diagnóstica inicialmente: por exemplo, o tratamento de Transtorno Bipolar (TB) pode melhorar sintomas inicialmente entendidos como sendo de TDPM.
Por este motivo, quando há mais de um transtorno, pode haver a necessidade de se implementar tratamentos em etapas, seguindo protocolos estabelecidos. Por exemplo, no caso de Transtorno Bipolar (TB) e TDPM, inicia-se o tratamento para TB e depois para TDPM.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves
Médico Psiquiatra Florianópolis
CRM/SC 20397–RQE/SC 11560