2. Como é feito o diagnóstico:
Os dois manuais diagnósticos mais utilizados na prática psiquiátrica são:
. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5-TR: Texto Revisado (a sigla DSM-5-TR deriva do título original em inglês: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition – Text Revision).
. Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde 11a Revisão – CID 11 (título original em inglês: International Classification of Diseases and Related Health Problems 11th. Revision – ICD 11).
A CID 11 é utilizada no Brasil oficialmente para codificação dos transtornos psíquicos. Entretanto, na prática, utilizamos o DSM-5-TR como guia diagnóstico, visto que a apresentação dos transtornos é mais completa e objetiva. Assim, os critérios diagnósticos utilizados aqui são aqueles apresentados pelo DSM-5-TR. Isto não cria discrepâncias, uma vez que os tipos de transtornos psíquicos e os grupos a que pertencem seguem as mesmas regras nos dois manuais.
2.1) Critérios diagnósticos conforme DSM-5-TR:
A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional).
B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses).
Nota: Apenas um dos itens é necessário para crianças.
1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele.
2. Fatigabilidade.
3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente.
4. Irritabilidade.
5. Tensão muscular.
6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto).
D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
E. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo).
F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico no transtorno de pânico, avaliação negativa no transtorno de ansiedade social, contaminação ou outras obsessões no transtorno obsessivo-compulsivo, separação das figuras de apego no transtorno de ansiedade de separação, lembranças de eventos traumáticos no transtorno de estresse pós-traumático, ganho de peso na anorexia nervosa, queixas físicas no transtorno de sintomas somáticos, percepção de problemas na aparência no transtorno dismórfico corporal, ter uma doença séria no transtorno de ansiedade de doença ou o conteúdo de crenças delirantes na esquizofrenia ou transtorno delirante).
3. Detalhamento dos sintomas de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG):
a) Ansiedade e preocupação excessiva:
O sentimento básico do TAG é o medo. Como consequência direta, ocorre preocupação e ansiedade excessivas, devido ao medo de que algo ruim aconteça. Tanto a intensidade quanto a duração da preocupação são desproporcionais ao que é temido e, de fato, muitas vezes o temor sequer se justifica, pois a possibilidade de “que algo dê errado” é muito remota.
É tão comum estar apreensivo que o portador não percebe isto como uma situação exagerada. “Sim, me preocupo com tudo, mas isso é normal” ou “tem que ser assim, porque esta é a forma mais correta de evitar problemas”.
Tudo pode ser motivo de preocupação, desde tarefas simples do dia a dia até situações de risco imaginárias, tais como perder todo o patrimônio, estar com uma doença rara e gravíssima, etc. Não existe um estímulo específico, como no Transtorno de Ansiedade Social (TAS), onde a ansiedade ocorre na presença de outras pessoas (para saber mais sobre TAS, clique aqui). No TAG, tudo é fonte de apreensão.
Devido à preocupação excessiva, é comum a sensação de urgência. Embora não esteja listado como sintoma, é visto em quase todos os portadores da condição. E por que a urgência? Quando você está muito preocupado em relação a algo, isto lhe causa sofrimento. Assim, o desejo é que o tempo passe rapidamente para que a situação termine, ou seja, que o evento temido ocorra o quanto antes, fazendo com que a preocupação cesse.
Entretanto, a urgência para ver o fim de um evento temido acaba por não atenuar os sintomas, na verdade. Isto porque geralmente existem outros eventos também temidos. Assim, o ciclo de apreensão e urgência se mantém.
b) Inquietação:
Manifesta-se por aceleração do pensamento e da atividade motora. Do ponto de vista psíquico, ocorre um fluxo muito grande de preocupações, com pensamentos intrusivos incontroláveis e ocorrendo de forma constante, que insistem em invadir a sua mente e acabam por causar confusão mental.
Confusão mental também é um sintoma muito típico, mas que, infelizmente, não é considerado critério para TAG.
Do ponto de vista físico, o indivíduo anda de um lado para o outro, inicia várias atividades e não consegue finalizá-las, fala muito, fica balançando as pernas, etc. São comuns reações de sobressalto, ou seja, reações intensas na presença de estímulos externos e internos menores.
Por outro lado, algumas pessoas se sentem paralisadas. Preferem ficar quietas e sem realizar qualquer atividade. Isto porque o medo pode tanto causar inquietação como paralisia.
c) Irritabilidade:
É uma consequência do permanente estado de hipervigilância associado ao mal-estar persistente. O indivíduo reage de forma excessiva a estímulos externos menores, pois os estímulos são sentidos como algo indesejado e perturbador. Manifesta-se por intolerância, impaciência, raiva e sensação de que pode explodir a qualquer momento, fazendo com que fique “ranzinza”. Está sempre “à flor da pele”.
d) Tensão muscular:
O estado permanente de alerta faz com que o sistema muscular fique tensionado o tempo todo. Trata-se de uma resposta corporal reflexa aos sintomas ansiosos. Quando estamos com medo, nosso corpo, reflexamente, assume uma postura de resposta chamada de “luta ou fuga”. Para as duas situações, a contração muscular é necessária. Quando o medo é constante, consequentemente a tensão muscular também será.
e) Fadiga:
O indivíduo sente-se cansado com muita facilidade. Do ponto de vista físico, a tensão muscular constante o torna mais suscetível à fadiga física. Do ponto de vista psíquico, as preocupações e tentativas de evitar eventos negativos acabam por causar fadiga mental. Assim, enquanto alguém sem TAG deixa as atividades do dia fluírem tranquilamente, o indivíduo portador da condição está constantemente lutando para manter-se seguro contra possíveis perigos e desfechos negativos. Esse processo acaba por causar fadiga e, muitas vezes, sonolência excessiva e falta de energia para o dia a dia.
f) Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente:
A diminuição de concentração e atenção é muito comum devido ao fato de o indivíduo estar sempre perdido em preocupações. Assim, não consegue manter o foco. Devido a este sintoma ser muito comum, indivíduos com TAG acreditarem frequentemente serem portadores de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) (para ler mais sobre a condição, clique aqui).
Decorrente da dificuldade em manter o foco, é muito comum a queixa de problemas de memória. Geralmente, não se trata de uma questão de memória propriamente dita, mas sim uma consequência de baixa atenção. Se você não está atento, a probabilidade de memorizar algo é muito menor.
Em relação aos “brancos” na mente, o estresse continuado provoca uma sobrecarga mental. O uso excessivo da energia investido nas preocupações acaba por causar fadiga mental. Associado a isto, a baixa atenção também provoca esta sensação. Os pacientes referem este sintoma como “sinto como se tivesse fugido da realidade”, ou então, “sinto como se saísse do meu próprio corpo”.
g) Perturbação do sono:
A dificuldade para iniciar o sono é chamada de insônia inicial. Esta ocorre, pois o indivíduo não consegue desligar de suas preocupações e continua em estado de hipervigilância e apreensão enquanto tenta dormir. Não consegue entrar em estado de relaxamento. Muitas vezes, não são apenas as preocupações que o impedem de “desligar”, mas também pensamentos aleatórios.
Também é comum despertar várias vezes durante a noite pela dificuldade em relaxar e permanecer nos estágios profundos do sono, ao que chamamos de insônia intermediária. Quando desperta na madrugada, há dificuldade em reiniciar o sono, pois a mente fica repleta de preocupações e pensamentos do dia a dia.
Por fim, a insônia final é quando o indivíduo desperta muito mais cedo do que gostaria. Novamente aqui, a causa é o estado permanente de tensão e a dificuldade de relaxar.
Outro ponto importante é que ficar preocupado com a possibilidade de não dormir ou então de dormir mal por si só já é um motivo para insônia. Ou seja, a pessoa não dorme bem porque tem medo de dormir mal.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves
Médico Psiquiatra em Florianópolis, Mestre, PhD
CRM/SC 20397–RQE/SC 11560