3. Tratamento:
3.1. Tratamento medicamentoso:
Nem sempre será necessário o uso de medicamentos. Entretanto, essa pode ser uma poderosa ferramenta, ao menos a curto prazo. Nos casos em que se identifica um quadro depressivo franco, por exemplo, o uso de antidepressivos está indicado. Nos casos de insônia, medicamentos que auxiliam na indução e/ou manutenção do sono também podem ser usados.
Nota: A decisão pelo uso ou não de medicamentos sempre será em conjunto, onde psiquiatra e paciente decidem qual o melhor rumo a seguir.
3.2. Tratamento não medicamentoso:
O tratamento não medicamentoso envolve a técnica psicoterápica denominada de Psicoeducação, mudanças no estilo de vida e mudanças no processo laboral. Sempre que possível, especialmente nos casos em que já está estabelecido outro diagnóstico psiquiátrico, como algum Transtorno Depressivo, Ansioso ou Bipolar, técnicas psicoterápicas derivadas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e da Terapia do Esquema estão indicadas.
No item 3.2.c, descrevo as técnicas básicas utilizadas. Além destas, algumas outras são trabalhadas, de acordo com o(s) seus(s) diagnóstico(s).
3.2.a) Psicoeducação:
Trata-se de uma abordagem psicoterapêutica em que o princípio é aprender e refletir sobre como o transtorno psíquico se manifesta, identificar sintomas e fatores precipitantes. Além disso, no caso de uso de medicamentos, discutir tópicos como o que esperar de efeito benéfico, efeitos colaterais possíveis, tempo de tratamento, etc.
3.2.b) Mudanças no estilo de vida:
. Prática de exercícios físicos: recomendam-se exercícios físicos ao menos três vezes na semana. E qual o melhor tipo? Aquele que lhe proporcionar mais prazer: caminhadas, corridas, musculação, jogar futebol, vôlei ou tênis, praticar natação ou qualquer outro tipo.
. Dieta saudável: para saber mais, clique aqui.
. Técnicas de relaxamento: para saber mais, clique aqui.
. Restabelecer um padrão saudável de sono. Para saber mais, clique aqui.
3.2.c) Mudanças no processo laboral:
. Identificar tarefas críticas: liste as atividades prioritárias e aquelas que podem ser delegadas ou adiadas. Isto é fundamental, a fim de evitar a exaustão e a sensação de frustração por nunca conseguir cumprir com sua agenda. Costumo orientar os pacientes a categorizar as tarefas em três níveis: alta prioridade (devem ser realizadas hoje), média prioridade (podem ser realizadas em uma semana) e baixa prioridade (podem ser realizadas nos próximos quinze dias).
. Eliminar tarefas desnecessárias: avalie se todas as suas atividades laborais são realmente essenciais para os seus objetivos e procure não se envolver no que não for fundamental para o andamento do seu trabalho.
. Criar metas realistas: estabeleça objetivos alcançáveis para evitar a frustração.
. No caso de cargos de gerência e supervisão, delegar tarefas: para tanto, reconheça as habilidades de cada membro de sua equipe. Confie no potencial dos colegas ou subordinados e delegue responsabilidades adequadas, dando-lhes autonomia. Entretanto, não caía em armadilhas: é comum que tarefas sejam delegadas e deixadas totalmente a cargo de subordinados ou colegas. Nestes casos, corre-se o risco de a tarefa não ser feita corretamente ou dentro do prazo, solidificando em você a crença de que só você pode realizar toda e qualquer tarefa. Assim, sempre supervisione o que foi delegado. E não esqueça: ofereça capacitação continuada a todos.
. Comunicação clara: facilite um ambiente onde todos possam expressar suas dificuldades, mas que também entendam quais são suas responsabilidades.
. Tempo para descanso: permita-se ter pausas durante o dia para relaxar ou então realizar alguma atividade que lhe dê prazer. Não deixe de tirar férias, se possível mais de uma vez ao ano. Reserve tempo para o lazer, sendo sugerido que pelo menos um dia na semana seja destinado apenas ao descanso. Nestes períodos, defina períodos curtos de tempo para estar conectado a redes sociais e aplicativos de mensagens.
. Redefina seus propósitos: será que preciso chegar tão longe em tão pouco tempo como planejei? Em geral, não (7,8,9).
3.2.d) Técnicas derivadas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC):
A TCC parte do princípio de que pensamentos distorcidos levam a uma interpretação enviesada da realidade, causando sintomas (ou grande parte deles). Assim, quando temos pensamentos disfuncionais (distorcidos), o resultado serão emoções e comportamentos também disfuncionais, o que, em última análise, são os sintomas. Nestes casos, deixamos de considerar outras evidências contrárias ao pensamento disfuncional.
Como exemplo, interpretar um pequeno problema como algo de importância e risco muito maior do que realmente é, resultando em medo intenso de que trará grandes infortúnios e perdas (catastrofização). A TCC também trabalha com o reforço de comportamentos saudáveis e promoção do bem-estar e qualidade de vida.
3.2.e) Técnicas derivadas da Terapia do Esquema:
Esquemas são estruturas cognitivas que contêm as crenças mais profundas sobre nós mesmos, os outros e o mundo. Quando induzem a avaliações incorretas e enviesadas da realidade, provocando emoções, reações corporais e comportamentos negativos, são chamados de disfuncionais.
Os pensamentos disfuncionais derivam de crenças centrais disfuncionais. Por exemplo, uma pessoa que acredita ser incompetente e nunca ser boa o suficiente produzirá pensamentos disfuncionais compatíveis com isso. Quando receber uma crítica, poderá dramatizar em demasiado a situação e entender isso como uma comprovação de que realmente não é capaz. Ao contrário, alguém que acredite nas suas capacidades, poderá interpretar a crítica como algo comum, simplesmente uma sinalização de que algo pode ser feito de forma diferente.
4. Estou com Burnout, devo me afastar do trabalho?
Caso você não esteja em uma situação insuportável, a resposta é NÃO.
O afastamento do trabalho em geral não resolve o problema. Isto porque acaba por criar uma sensação permanente de preocupação e ansiedade pelo fato de não estar trabalhando. Assim, o afastamento, que serviria para o descanso, apenas causa prejuízos. Além disso, o afastamento pode aumentar o sentimento de frustração.
Por fim, ao se afastar do trabalho, as orientações para mudanças no processo laboral não poderão ser aplicadas.
5. Comorbidades:
A ocorrência de algum outro transtorno psíquico concomitantemente (comorbidade) com Burnout é comum. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que transtornos psíquicos ocorrendo isoladamente fossem a regra. Chegava-se a incentivar o diagnóstico único. Mais recentemente, tem-se demonstrado através de estudos epidemiológicos que comorbidade é muito comum em psiquiatria. Esta informação é crucial para se estabelecer o tratamento de cada paciente por dois motivos:
. O não tratamento de um transtorno pode acarretar a não melhora do(s) outro(s): por exemplo, não tratar Insônia pode prejudicar o tratamento de Burnout.
. O tratamento de um transtorno pode causar a melhora de transtorno(s) comórbido(s), que era(m) considerados uma hipótese. Nestes casos, na verdade, os sintomas necessários para preencher os critérios diagnósticos do(s) transtorno(s) comórbido(s) eram consequência do primeiro e, devido a esta possibilidade, tem que ser considerado apenas como uma hipótese diagnóstica inicialmente: por exemplo, o tratamento de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) pode melhorar sintomas inicialmente entendidos como sendo de Burnout.
Por este motivo, quando há mais de um transtorno, pode haver a necessidade de se implementar tratamentos em etapas, seguindo protocolos estabelecidos. Por exemplo, no caso de Transtorno Bipolar (TB) e Burnout, inicia-se o tratamento para TB e depois para Burnout.
No final da página você encontra artigos sobre outros transtornos psíquicos.
6. Referências bibliográficas:
1. FREUDENBERGER, H. J.; Richelson, G. Burn-out: the high cost of high achievement. 1a ed. New York: Bantam Books, 1980.
2. FREUDENBERGER, H. J. Staff Burn-Out. Journal of Social Issues, 30(1), p. 159–165. 1974a.
3. EDÚ-VALSANIA, S; LAGUÍA, A; MORIANO, JA. Burnout: A Review of Theory and Measurement, 19(3), p. 1780. 2022. doi: 10.3390/ijerph19031780. PMID: 35162802; PMCID: PMC8834764.
4. RAHIM, MA. A comparative study of entrepreneurs and managers: stress, burnout, locus of control, and social support. Journal of health and human services administration, 18(1), p.: 68-89. 1995.
5. WORLD HEALTH ORGANIZATION. International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems, Eleventh Revision (ICD-11). 11th ed. Genebra, 2019. Disponível em: https://www.who.int/classifications/classification-of-diseases.
6. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition – Text Revision. 5a. ed. Rev. Washington, DC: American Psychiatric Association Publishing. 2022.
7. HAN, B-C. The Burnout Society. 1a. ed. Stanford University Press, 2015.
8. WIENS, K. Burnout Immunity: How Emotional Intelligence Can Help You Build Resilience and Heal Your Relationship with Work. 1a. New York, 2024.
9. PLUMBY, C. Burnout: How to Manage Your Nervous System Before it Manages You. New York: Balance, 2024.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves
Médico Psiquiatra em Florianópolis, Mestre, PhD
CRM/SC 20397–RQE/SC 11560