3. Como ocorre na população:
Estima-se que em torno de 8% das crianças e 4% dos adultos sejam acometidos pelo TDAH. Em geral atinge 2 a 3 vezes mais indivíduos do sexo masculino. Os subtipos combinado e predominantemente hiperativo/impulsivo ocorrem mais frequentemente em crianças do sexo masculino. Com o avanço da idade, já na adolescência, os sintomas de hiperatividade/impulsividade tendem a diminuir e estes indivíduos passam a apresentar o subtipo desatento. Em crianças do sexo feminino e adultos (mulheres e homens) o subtipo desatento é o mais comum.
Devido ao fato de o subtipo desatento ser menos evidente, pois os sintomas de desatenção são menos perceptíveis que os de hiperatividade/impulsividade, o diagnóstico tende a ocorrer com mais frequência em crianças do sexo masculino. Desta forma este é o grupo com a maior proporção de portadores em tratamento.
4. Detalhamento dos sintomas – uma síndrome complexa:
Como mencionado anteriormente, TDAH não se limita a uma dificuldade de focar a atenção e/ou inquietação constante. O quadro clínico é bem mais amplo e como resultado ocorrem limitações importantes na realização de tarefas do dia a dia, mesmo as mais simples. Em geral as funções executivas, conjunto de habilidades necessárias para executar e gerenciar as atividades cotidianas, está prejudicada.
Os componentes da função executiva são:
. planejamento de ações: capacidade de definir e organizar antecipadamente as etapas de uma atividade;
. tomada de decisão: optar, entre várias possibilidades, qual(is) a(s) mais adequada(s) ao objetivo definido;
. resposta ao feedback/correção de erros: mudança de atitude para ajustar o comportamento de forma a evitar um erro que já foi cometido;
. flexibilidade mental: capacidade de modificar pensamentos e comportamentos ao longo do tempo de acordo com o objetivo estabelecido.
Abaixo estão apresentados sintomas que ocorrem na grande maioria dos casos e que interferem negativamente de forma considerável na funcionalidade e na qualidade de vida dos indivíduos portadores de TDAH.
> É muito importante ressaltar que as dificuldades relacionadas abaixo tendem a não ocorrer quando a tarefa desperta grande interesse ou então quando proporciona prazer imediato. Nestes casos pode não haver qualquer dificuldade para sua realização. Ao contrário, pode haver hiperfoco. Desta situação decorre a visão pejorativa de que portadores de TDAH fazem apenas o que lhes agrada. Entretanto não se trata aqui de algo puramente voluntário e sim do fato de os sistemas cerebrais necessários para a execução da tarefa deixam de ser ativados em situações corriqueiras.
a) Procrastinação:
É um dos problemas mais comuns relatados pelos portadores de TDAH. Apesar de terem a consciência de que alguma atividade deva ser realizada, simplesmente não conseguem iniciá-la. Muitas vezes só o fazem quando se torna uma emergência. E isto pode ser muito prejudicial na medida em que as tarefas acabam sendo realizadas “na corrida” e por isso geralmente são feitas de forma muito aquém da desejada.
Isto decorre de problemas nos mecanismos de ativação. Quando estes não são acionados o impulso inicial para se engajar em alguma atividade não ocorre.
b) Dificuldades em priorizar tarefas:
Estabelecer o que é prioridade entre um grande número de atividades é muito difícil. Existe uma limitação em relacionar as partes ao todo, ou seja, de analisar o contexto geral e perceber o que é mais importante e urgente. Por isso há problemas na organização pessoal, com atrasos na entrega de tarefas, faltas a compromissos e desorganização nas finanças pessoais.
É comum por exemplo a criação de listas de atividades para o dia com vinte itens ou mais, sem haver uma noção de o que é prioridade e de o que pode ser deixado para outro momento. Assim, pode ocorrer de no final do dia terem sido realizadas muitas tarefas sem importância e deixadas de lado as que realmente eram necessárias.
c) Problemas para manter o foco:
Problemas para manter o foco é a queixa mais comum e a mais relacionada ao TDAH. O indivíduo não consegue manter-se concentrado em uma tarefa. Assim, ler, escrever, ouvir o que alguém fala e assistir televisão, por exemplo, é desafiador, pois o foco se perde com facilidade. Isto quer dizer que a distração é a regra.
Qualquer outro estímulo externo, como um barulho, ou interno, como uma lembrança, faz com que se perca o foco. Não há uma filtragem de estímulos para descartar os sem importância. O indivíduo com TDAH refere com frequência que lê livros ou outros textos e tem a impressão que não leu nada. É como se desse apenas “uma passada de olhos”.
d) Hiperfoco:
Embora possa parecer contraditório, em muitas situações a atenção em algo é mantida de forma exagerada, tornando-se difícil mudar o foco quando isto se faz necessário. A isso denominamos hiperfoco. Acontece geralmente em tarefas e atividades que despertam grande interesse.
Por exemplo, quando está assistindo algo na televisão que desperte muita curiosidade e uma pessoa falar algo, não conseguir tirar o foco brevemente do que está assistindo e atentar para o que está sendo falado. Outro exemplo comum ocorre quando portadores de TDAH jogam videogame. Ficam tão fixados no jogo como se nada mais à sua volta existisse.
e) Memória de trabalho:
A memória de trabalho é aquela responsável por guardar informações durante segundos a minutos. Por exemplo, olhar um número de telefone e memorizá-lo somente para digitá-lo e logo depois esquecê-lo. Déficits na memória de trabalho se refletem em situações tais como ir do quarto até a sala para fazer algo e ao chegar na sala não lembrar mais o que iria fazer, não lembrar onde deixou há poucos minutos a chave da casa ou então querer falar algo para alguém e no momento de falar já ter esquecido o que queria transmitir. Como consequência deste último exemplo, é comum portadores de TDAH interromperem outras pessoas por medo de esquecerem o que querem dizer.
Escrever é, comumentemente, relatado como algo muito dificultoso. Isto porque se precisa manter o foco no que se está escrevendo, no que se quer escrever em seguida, no contexto geral do texto, etc. A mesma dificuldade ocorre para ler, pois é necessário manter na memória de trabalho o que já foi lido para então relacionar com o que está sendo lido no momento.
Para continuar lendo clique aqui.
Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves – Psiquiatra em Florianópolis e Caxias do Sul
Entre em contato clicando aqui