3. Detalhamento dos sintomas depressivos:
a) Humor deprimido:
Dentre todos os sintomas de depressão o humor deprimido (ou melancólico) é o mais comum. Entende-se por humor o estado de ânimo ou “estado de espírito” de um indivíduo. Funciona como uma lente através da qual vemos o mundo, as situações, as pessoas e nós mesmos, dando cor às vivências do dia a dia e influenciando diretamente todas as nossas funções psíquicas e físicas.
No humor deprimido o estado de disposição, motivação e bem-estar físico, psicológico e emocional estão substancialmente prejudicados e rebaixados. É um estado permanente de tristeza, desesperança e desencorajamento.
Expressões como “estou no fundo do poço”, “estou na fossa”, “a vida perdeu o sentido, perdeu a graça ou perdeu o colorido” são muito comuns. O indivíduo maximiza tudo o que é negativo e minimiza tudo o que é positivo.
b) Humor irritável:
O humor também pode ser irritável (ou disfórico). Nestes casos os estímulos externos são sentidos como perturbadores e desagradáveis, o que causa raiva e agitação. Trata-se de um estado de grande mal estar. São comuns referências como “estou no limite”, “estou por um fio”, “sinto que a qualquer minuto vou explodir”, “tudo me irrita”, “nem eu me aguento mais”. O indivíduo está constantemente hiper-reativo, ou seja, responde rapidamente aos estímulos de forma intensa e por isso pode acabar sendo ríspido ou até mesmo agressivo.
c) Diminuição acentuada do prazer:
A diminuição do prazer se manifesta por diminuição ou ausência total de satisfação nas atividades do dia a dia, fazendo com que tudo fique sem sentido. Viver não traz mais nenhum tipo de contentamento. É geralmente referido como “nada mais me alegra”, “tudo perdeu a graça”, “nada me satisfaz”. Inicia em atividades obrigatórias, tais como trabalhar, podendo evoluir para atividades de lazer e outras de que o individuo antes gostava muito. Nestes casos, conversar com amigos, praticar algum esporte ou envolver-se em hobbies, por exemplo, não proporcionam mais prazer.
d) Diminuição acentuada do interesse:
Na diminuição do interesse o desejo pelas coisas, pessoas e situações está diminuído. Não há mais motivação para realizar atividades e o indivíduo fica apático frente à vida. “Nada mais faz sentido”, “tudo o que queria já não quero mais”, “nada mais me importa”, “não sei mais o que quero e nem quem eu sou” são expressões comuns. Quanto maior a gravidade do estado depressivo, maior o desinteresse pelas coisas. Pode-se chegar a perder o interesse até por pessoas muito queridas, como os próprios filhos, por exemplo, o que gera muita culpa.
e) Diminuição ou aumento do apetite ou do peso:
São alterações comuns. Pode haver aumento do apetite, com fissura por doces e carboidratos, tendo como consequência aumento de peso. Também pode haver perda do apetite, muito relacionado à redução do prazer, quando pode haver diminuição considerável de peso.
f) Insônia ou hipersonia:
O sono inadequado é causa importante da manutenção de sintomas depressivos e deve ser sempre alvo de tratamento. Existem três tipos de insônia: inicial, quando há dificuldade de adormecer; intermediária, quando há múltiplos despertares noturnos (“o sono fica picado”); e terminal, quando o indivíduo acorda muito antes do desejado e não consegue voltar a dormir apesar de estar muito cansado. Podem ocorrer em separado ou de forma combinada: por exemplo, ter insônia inicial e terminal.
Por outro lado, em alguns casos há excesso de sono (hipersonia). Nestas situações o indivíduo necessita dormir mais horas que o normal. Apesar disso sente-se cansado e sonolento durante o dia, podendo necessitar de cochilos.
g) Agitação ou retardo psicomotor:
Estes sintomas referem-se à dinamicidade e velocidade com que o indivíduo se movimenta, fala e raciocina. O retardo psicomotor é uma consequência da redução geral da atividade cerebral, da falta de energia e da redução do interesse e do prazer. Ocorre lentidão para todo tipo de atividade física e psíquica. Por exemplo, nas conversas pode haver demora para responder, com pausas antes de falar. Já a agitação é quando o indivíduo não consegue ficar parado, tendo que andar continuamente e agitar as mãos e as pernas. O pensamento fica mais rápido e muito confuso, sendo o humor geralmente mais irritável que deprimido.
h) Fadiga ou perda de energia:
São sintomas muito comuns e associados a outros podem causar incapacidade severa. “Tudo é um sacrifício”, “mão me aguento mais em pé”, “parece que sugaram todas as minhas energias”.
Existe um estado permanente de cansaço, mesmo que nenhuma atividade tenha sido realizada. Devido a isto tarefas mesmo simples podem requerer uma boa parcela de esforço extra para serem realizadas. Não é incomum nos estados de falta de energia mais intensa que o portador de sintomas depressivos deixe de cuidar da própria higiene pessoal (tomar banho, escovar os dentes, etc) e até mesmo de conversar.
i) Sentimento de inutilidade:
O sentimento de inutilidade é quando o indivíduo crê ser alguém sem valor, que “não presta para nada”, “não vale nada”, “está no mundo só para atrapalhar os outros”. Decorre da visão negativa em relação a si mesmo e da diminuição da autoestima, fazendo com que não considere quase nada de positivo que fez na vida. Somente consegue lembrar e perceber seus erros e fracassos. Conforme se agrava o estado depressivo e o envolvimento em atividades diminui devido aos sintomas já citados (fadiga, lentidão psicomotora, etc) a sensação de inutilidade toma grandes proporções e causa muito sofrimento.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves – Psiquiatra em Florianópolis e Caxias do Sul
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