3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco:
Este critério também se relaciona à rigidez comportamental e cognitiva. Há interesse excessivo e obsessivo por um número muito limitado de objetos, informações e situações. Sempre que em contato com o alvo de seu interesse, existe um hiperfoco, ou seja, um estado de concentração intensa e sustentada onde se manifesta um estado de absorção completo.
Em todas as idades isto pode ser evidenciado, por exemplo, pela necessidade de percorrer o mesmo caminho para a escola ou trabalho todos os dias, ingerir sempre os mesmos alimentos, preocupar-se persistentemente em memorizar datas de nascimento de familiares, nomes de ruas, informações meteorológicas, capitais, etc, ter forte apego a determinados objetos, dedicar-se excessivamente a determinadas tarefas (em adultos, por exemplo, dedicar-se intensamente ao estudo de algum tema específico).
4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente:
Decorre de déficits do processamento sensorial. O processamento sensorial se refere à capacidade de captar informações através dos sentidos (tato, movimento, olfato, paladar, visão e audição), organizar e interpretar essas informações e dar uma resposta significativa. Quando ocorre perturbação nessa função psíquica, os estímulos sensoriais que adentram o Sistema Nervoso Central são processados de forma anormal e a reação a estes é atípica. Isto é evidenciado por padrões não convencionais de reações a estímulos sensoriais do ambiente, podendo haver reação insuficiente (hiporreatividade) ou excessiva (hiper-reatividade).
Até pouco tempo atrás os desafios quanto a estímulos sensoriais não eram considerados um sintoma central no TEA. Ou seja, as questões sensoriais eram ignoradas. Estas dificuldades foram incluídas como critério diagnóstico somente em 2013, com a publicação do manual diagnóstico DSM 5. Isto foi possível após a verificação através de muitos estudos de que portadores de TEA reagem de forma atípica à luz, ao som, à pressão física, ao cheiro e ao paladar. Ocorre em todas as idades, sendo mais evidentes em crianças.
Em relação à hiper-reatividade, portadores de TEA tendem a se sentir “bombardeados” pelos estímulos do ambiente, fazendo com que muitas vezes tenham reações extremas ao som por exemplo ou então evitem contato físico. Podem não ser capazes de ir ao cinema ou participar de atividades sociais porque percebem intensamente o som e as luzes.
Pode haver intolerância a texturas de certas roupas, fazendo com que não consigam usar algumas vestimentas com determinados tecidos, expecialmente lã, ou com etiquetas. A textura e cor de determinados alimentos também podem causar respostas extremas, fazendo com que restrinjam a ingestão de determinados alimentos ou então insistam muito em outros.
Também é comum intolerância a ruídos, especialmente quando altos; por exemplo, som de sirenes, muitas pessoas falando, cachorros latindo ou bebês chorando. A hiper-reatividade ao som em geral causa problemas de concentração nas tarefas que estejam sendo executadas. Por fim, pode haver envolvimento excessivo com cheiros ou toques de objetos e fascinação visual com luzes ou movimento (por exemplo, objetos giratórios).
Quanto à hiporreatividade, por serem pouco responsivas a alguns estímulos sensoriais, pode haver um desejo quase insaciável por estes estímulos. Como exemplo, ouvir música em volume muito alto ou se agitar o tempo todo. É comum haver indiferença à dor ou temperatura. Estímulos que causariam dor e contato de objetos muito frios ou muito quentes podem não ser percebidos. Outra situação muito comum é de serem “desastrados”. Isto ocorre porque têm dificuldades em saber onde seus próprios corpos estão no espaço, fazendo com que “não vejam” móveis ou pessoas ao seu redor, esbarrando, tropeçando e comportando-se de forma desajeitada.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves – Psiquiatra em Florianópolis e Caxias do Sul
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