Os transtornos psíquicos começaram a ser efetiva e sistematicamente estudados por pesquisas científicas bem conduzidas e sérias somente a partir da década de 1980. O conhecimento científico acumulado desde então apresenta evidências de que estes ocorram como resultado de uma interação entre vulnerabilidade genética e fatores ambientais adversos. Esta concepção tem sido usada na compreensão da etiologia (causas) da maior parte das doenças – psíquicas ou não.
Por vulnerabilidade genética entende-se o conjunto de fatores genéticos próprios de cada indivíduo que irão colocá-lo em situação de maior risco para uma determinada doença. Entretanto a forma como a carga genética influencia na ocorrência de um transtorno psíquico está longe de uma explicação conclusiva e satisfatória.
O que existem atualmente são hipóteses postulando que os genes “doentes” exercem sua influência ao determinar alterações em circuitos neuronais de alguns indivíduos, tornando-os mais propensos a adoecer. Por exemplo, mutações em genes que diminuem a quantidade de serotonina agindo no cérebro podem resultar em sintomas depressivos.
A identificação de quais genes estão envolvidos na ocorrência das patologias psíquicas é algo de uma complexidade imensa. Isto porque tem-se verificado que são inúmeros genes de pequeno efeito e em interação entre si que tornam alguém mais vulnerável. É diferente de algumas doenças como fibrose cística ou hemofilia, por exemplo, em que apenas um gene determina a sua ocorrência.
Apesar de não se conhecer todos os genes causadores dos transtornos psíquicos, é possível estabelecer através de pesquisas bem conduzidas a contribuição da hereditariedade para a eclosão de cada um. Estas investigações na sua grande maioria são feitas com gêmeos monozigóticos – que compartilham 100% do seu material genético. Os resultados têm sido no sentido de que a genética contribui substanciamente para a ocorrência dos transtornos psíquicos. Para esquizofrenia, por exemplo, a estimativa é que de 70 a 80% da condição seja decorrente da genética. Para transtorno bipolar esta estimativa chega a 60%, e para depressão, 50%. O restante é causado por fatores ambientais.
Em relação aos fatores ambientais, é sempre importante identificar para cada caso quais são os fatores estressores que contribuem para a manifestação dos sintomas. Isto é importante pois aprender a lidar de forma mais saudável com estes fatores e, quando possível, evitá-los, é parte muito essencial do tratamento.
Entretanto deve-se ter em mente que existem inúmeros outros eventos passados contribuindo para a patologia, além daqueles identificados. É fundamental perceber que todas as vivências anteriores do indivíduo, sejam elas mantidas no consciente ou inconsciente, estarão influenciando na ocorrência do transtorno.
Importante notar que muitas vezes o evento identificado como causador é na verdade uma consequência. Por exemplo, alguém que busca tratamento para depressão após uma demissão. Sem considerar se ela foi ou não justa, a sequência poderá tanto ser a demissão causando depressão quanto a depressão ser causa de sua demissão.
Não é nada incomum uma pessoa ter sintomas psíquicos e não estar consciente destes. Existem casos, especialmente no transtorno depressivo e transtorno bipolar – mas também em outros transtornos, em que o indivíduo afetado irá perceber os sintomas após muitos anos de doença. Para transtorno bipolar este lapso temporal pode chegar a dez anos ou mais. Consideremos então que o indivíduo tenha sintomas depressivos e não perceba. Como consequência ele poderia apresentar um mau desempenho laboral e, assim, seus sintomas causarem a demissão.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves – Psiquiatra em Florianópolis e Caxias do Sul
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