A fim de se prevenir doenças é necessário conhecer suas causas, tarefa extremamente complexa. Os transtornos psíquicos estão em posição bastante delicada quando o assunto é causalidade. Por não terem manifestação física, e sim comportamental, cognitiva e emocional, prestam-se a todo tipo de interpretações. O fato de serem entidades “não concretas” possibilita que sejam tratados de forma bastante equivocada.
Quando o assunto é psiquiatria, desde áreas do meio científico que não a psiquiatria, da filosofia, da cultura e do setor religioso se insinuam como formas de tratamento e como detentoras do “segredo” de porque os transtornos ocorrem. É de fato algo muito corriqueiro no atendimento de pacientes ouvir relatos de verdadeiras jornadas pelos mais diversos tipos de abordagens, sendo mais comum as tentativas no âmbito religioso.
Isto muitas vezes conduz os portadores destas condições a situações vexatórias ao expô-los a “tratamentos” descabidos e ao fazê-los aceitar explicações inverídicas sobre a origem dos seus sintomas. Além disso tais abordagens são prejudiciais na medida em que criam expectativas irreais de cura.
Por muito tempo a investigação e abordagem dos sintomas psíquicos dentro da própria psiquiatria era praticamente uma discussão filosófica e não científica. Entendiam-se os transtornos como sendo originários de “falhas” na vivência dos vários estágios do desenvolvimento psicológico, o que prejudicaria a formação de uma “personalidade saudável”. Ou seja, os sintomas seriam problemas de personalidade. Esta concepção do processo saúde-doença psíquica proliferou especialmente a partir do início do século XX com a psicanálise.
Foi proposto durante décadas do século XX que um indivíduo tornava-se esquizofrênico por problemas de vínculo afetivo entre ele e sua mãe, que era rotulada de mãe esquizofrenizante ou esquizofrenogênica. Estas mães teriam criado relações ambivalentes com o filho no início da vida (tanto se aproximavam quanto se afastavam, transmitindo uma mensagem dupla), teriam educado-o de forma muito rígida ou então teriam fomentado uma relação simbiótica com ele.
Hoje sabe-se que tal patologia tem um percentual de hereditariedade que pode chegar a 80%. Em medicina isto significa uma contribuição genética extremamente forte, com pouquíssima contribuição do meio ambiente.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves – Psiquiatra em Florianópolis e Caxias do Sul
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