Estamos constantemente interpretando os eventos do dia a dia, o que gera pensamentos automáticos. Estes serão disfuncionais quando ocorrer uma avaliação cognitiva distorcida, deturpada da realidade.
A distorção cognitiva ocorre quando analisamos os eventos de forma enviesada, de acordo com crenças negativas e errôneas que temos sobre nós mesmos, os outros e o mundo. E para que isso ocorra deixa-se de considerar evidências e dados importantes que sejam contrários ao que acreditamos.
Um exemplo é citado para ilustrar o conceito. Você recebeu uma avaliação negativa em alguma tarefa realizada e sente-se muito desanimado(a) por isso, pois interpretou o fato como “falhei e portanto sou um fracasso”. Este é um caso de distorção cognitiva do tipo filtro mental, em que outras evidências contrárias à sua crença são descartadas. Você não leva em conta, por exemplo, que falhou porque ainda está com sintomas de depressão ou ansiedade, como baixa concentração. Ou seja, ter falhado não significa que seja um(a) fracassado(a) e sim que você ainda está sintomático(a).
Existem inúmeros tipos de distorções cognitivas, sendo que os mais comuns foram padronizados e estão apresentados abaixo. É importante salientar que pode haver sobreposição de mais de um tipo em um mesmo pensamento. No exemplo citado pode-se considerar também distorções do tipo tudo ou nada (ou você tem sucesso em tudo o que faz ou então é um total fracasso) e supergeneralização (um erro numa tarefa é o mesmo que se você errasse em tudo o que faz em todas as áreas de sua vida).
Os tipos mais comuns de distorção cognitiva são:
1. Visão em túnel (filtro mental):
Considerar apenas algumas poucas evidências selecionadas da realidade que confirmam a crença distorcida, ignorando e descartando outros elementos importantes. Exemplo: ao pensar sobre si mesmo(a), identificar apenas defeitos e dificuldades. Por este motivo concluir que é alguém inútil e inferior à grande maioria das pessoas, ignorando todas as qualidades que certamente possui, afinal ninguém é isento de virtudes e características positivas. Também pode descartar todas as vitórias ocorridas no decorrer da vida, lembrando apenas dos fracassos;
2. Maximização/minimização:
Tendência a maximizar e atribuir grande importância a tudo o que é negativo e minimizar e desqualificar tudo o que é positivo. Exemplo: ao receber uma crítica de um amigo considerá-la como prova irrefutável de que é um fracasso, mas ao receber um elogio pensar que não é verdadeiro e que foi feito apenas com o objetivo de agradar.
3. Pensamento tudo ou nada:
Fazer julgamentos sobre si mesmo, os outros e o mundo de forma extremista, sem meios-termos. Exemplo: ao não ter sucesso em alguma tarefa realizada entender isso como uma prova de que nunca será bom(oa) o suficiente e que é uma pessoa fracassada. Ou seja, ou é perfeito(a) e bem sucedido(a) em tudo o que faz ou então é um(a) incapaz. Deixa-se de perceber que errar faz parte da vida e assim a competência não é avaliada realisticamente, com meios-termos, mas em apenas duas categorias: 100% de sucesso ou total incapacidade;
4. Catastrofização:
Antecipar o futuro de forma negativa e pessimista, sendo comum também ter frequentemente a sensação de que algo muito ruim está por acontecer acontecer. Isso ocorre mesmo quando há baixa probabilidade de ocorrências negativas e até mesmo quando existem evidências que indicam o contrário. Exemplo: sentir palpitações e pensar que está se manifestando uma doença muito grave, como um ataque cardíaco. Não considerar que já ocorreram incontáveis episódios de palpitações, sempre ligados à ansiedade, sem consequências graves. Ou seja, descarta-se a probabilidade mais plausível de todas, a de que esteja ocorrendo mais uma crise de ansiedade, e não se manifestando uma doença séria;
5. Supergeneralização:
Transformar uma conclusão negativa (correta ou não) sobre uma ocorrência isolada em uma regra que se aplica a todos os casos. Exemplo: ao se decepcionar com um(a) amigo(a), acreditar que todos os relacionamentos de amizade serão cedo ou tarde uma grande desilusão. Ou seja, 100% das suas amizades atuais e futuras são vistas da mesma forma negativa. Você “esquece” que tem ou já teve bons(as) amigos(as);
6. Personalização:
Assumir que eventos externos sejam sempre uma consequência do seu comportamento. Culpar-se muito por ocorrências negativas devido à crença de que tem responsabilidade sobre tudo, mesmo sobre situações que independam da sua ação. Exemplo: culpar-se por algum familiar estar passando por algum tipo de dificuldade, acreditando que deveria ter prevenido isto ou então que deva resolver os problemas dele;
7. Leitura da mente:
Acreditar saber o que se passa na mente de outras pessoas. Exemplo: quando um colega passa por você com pressa e não o(a) cumprimenta, acreditar que ele lhe menospreza. Deixa-se de considerar explicações alternativas, tal como ele estar num mau dia.
8. Racionalização da emoção: acreditar que aquilo que sente é uma verdade. Exemplo: sentir-se incapaz significa que é realmente incapaz;
9. Afirmações “tenho que”: rigidez na forma como acredita que todos devam ser. Em função disso critica-se muito a si mesmo e critica outras pessoas por não atingirem as metas de como todos devem ser. Exemplo: ficar frustrado(a) quando não consegue realizar todas as tarefas programadas para o dia porque “tem que” sempre fazer tudo conforme o planejado.
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Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves – Psiquiatra em Florianópolis e Caxias do Sul
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