Menos de 50% dos portadores de depressão procuram tratamento e isso se deve principalmente ao preconceito em relação a transtornos psíquicos. “Você só precisa se ajudar”, “depressão é coisa de gente que não tem o fazer”, “tenha mais força de vontade”, “você deve estar com algum encosto”, “você precisa ter fé em Deus se quiser melhorar” são expressões comuns, afirmações que revelam todo o preconceito e a não compreensão de um problema tão sério de saúde.
Esta multiplicidade de “conselhos” acaba deixando a pessoa deprimida ainda mais confusa e, pior ainda, culpada, como se ficar doente fosse sua responsabilidade.
2. Como é feito o diagnóstico:
Os dois manuais diagnósticos mais utilizados na prática psiquiátrica são:
. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5-TR: Texto Revisado (a sigla DSM-5-TR deriva do título original em inglês: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition, Text Revision (DSM-5-TR)).
. Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde 11a. Revisão – CID 11 (título original em inglês: International Classification of Diseases and Related Health Problems 11st. Revision – ICD 11).
A CID 11 é utilizada no Brasil oficialmente para codificação dos transtornos psíquicos. Entretanto, na prática, utilizamos o DSM-5-TR como guia diagnóstico, visto que a apresentação dos transtornos é mais completa e objetiva. Assim, os critérios diagnósticos utilizados aqui são aqueles apresentados pelo DSM-5-TR. Isto não cria discrepâncias, uma vez que os tipos de transtornos psiquiátricos e os grupos a que pertencem seguem as mesmas regras nos dois manuais.
O diagnóstico de depressão é feito quando alguns critérios básicos, que são apresentados abaixo, são atendidos. Na seção 3 cada sintoma será explicado de forma detalhada.
2.1. Transtorno Depressivo Maior (TDM):
O TDM é caracterizado pela ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos Maiores (EDMs). Quando ocorre apenas um EDM denomina-se de TDM episódio único e quando ocorrerem dois ou mais de TDM recorrente. Não pode ter ocorrido na vida nenhum episódio maníaco ou hipomaníaco, pois nestes casos o diagnóstico será de transtorno bipolar.
Para o diagnóstico de EDM deve haver cinco ou mais dos sintomas citados abaixo por pelo menos duas semanas durante a maior parte do dia e em quase todos os dias. Não pode ter duração de dois anos ou mais, porque neste caso seria Transtorno Depressivo Persistente (Distimia). Pelo menos um sintoma deve ser o 1 ou o 2:
1. Humor deprimido (Nota: Em crianças e adolescentes pode ser humor irritável);
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades;
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta ou redução ou aumento do apetite. (Nota: Em crianças considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado);
4. Insônia ou hipersonia (sono em excesso);
5. Agitação ou retardo psicomotor;
6. Fadiga ou perda de energia;
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva e inapropriada;
8. Capacidade diminuída para pensar, se concentrar ou tomar decisões;
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida sem um planejamento, estratégia estabelecida para cometer suicídio ou tentativa de suicídio.
Além disso, para ser dado o diagnóstico, os sintomas devem causar sofrimento ou prejuízo importante no funcionamento e na qualidade de vida do portador. Este critério é comum a todos os transtornos psíquicos.
2.2. Transtorno Depressivo Persistente (TDP):
O TDP (Distimia) corresponde a 10% dos casos de depressão. Os sintomas devem perdurar por pelo menos dois anos (ou um ano para crianças e adolescentes) durante a maior parte do dia e quase todos os dias. Para o diagnóstico devem ser preenchidos os critérios A e B:
A. Humor deprimido (em crianças e adolescentes o humor pode ser irritável).
B. Presença, enquanto deprimido, de dois (ou mais) sintomas:
1. Apetite diminuído ou alimentação em excesso;
2. Insônia ou hipersonia;
3. Baixa energia ou fadiga;
4. Baixa autoestima;
5. Concentração pobre ou dificuldade em tomar decisões;
6. Sentimentos de desesperança.
Clique aqui para acessar a parte 3.
Dr. Daniel Maffasioli Gonçalves – Psiquiatra em Florianópolis e Caxias do Sul
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